Por Thiago Rahal Mauro
Gravadora: Reigning Phoenix
Quando soube que Udo Dirkschneider regravaria o clássico “Balls to the Wall”, confesso que fiquei dividido entre a empolgação e o receio. Por um lado, é uma oportunidade de celebrar um dos álbuns mais icônicos do heavy metal, mas, por outro, existe sempre o risco de perder a essência do original. Mas será que essa regravação era realmente necessária? Felizmente, “Balls to the Wall: Reloaded” faz jus ao legado de 1983 e entrega uma experiência nostálgica, mas modernizada, que respeita o material original sem soar forçada ou oportunista. Ainda assim, quando olharmos para trás, será esse álbum que iremos lembrar ou a versão clássica do Accept?
A grande sacada aqui foi trazer uma gama impressionante de vocalistas convidados, cada um colocando sua assinatura em faixas imortalizadas por Udo na época do Accept. A escolha não foi aleatória: de Joakim Brodén (Sabaton) a Dee Snider (Twisted Sister), passando por Michael Kiske (Helloween) e Mille Petrozza (Kreator), todos têm um histórico de influência direta do álbum original. Esse detalhe faz toda a diferença, pois não se trata apenas de uma homenagem genérica, mas de um tributo feito por quem realmente entende e sente a importância desse disco para o metal.
Enquanto a gravação original tinha aquele som cru e característico dos anos 80, aqui temos um tratamento moderno, sem exageros ou polimentos excessivos. A mixagem está cristalina, permitindo que cada instrumento tenha seu espaço, mas sem perder o peso e a energia visceral das composições. A bateria soa mais encorpada, o baixo está mais presente, e as guitarras mantêm a pegada que consagrou Accept, com pequenas variações que atualizam os solos sem desrespeitar a essência original.
Algumas faixas ganham destaque justamente pelo contraste entre os timbres dos convidados e o estilo característico de Udo. Em “Fight It Back”, por exemplo, a ferocidade de Mille Petrozza dá um ar ainda mais agressivo à música, enquanto “Losing More Than You’ve Ever Had” brilha com a voz melódica e precisa de Michael Kiske. “Love Child” foi uma das grandes surpresas, com Ylva Eriksson (Brothers of Metal) trazendo uma abordagem única que enriquece a canção. Mas o ponto alto para mim foi “Balls to the Wall”, onde Joakim Brodén conduz um dueto épico com Udo, respeitando cada detalhe da música original e adicionando sua própria intensidade.
Vale ressaltar que “Winter Dreams”, cantada em parceria com Doro Pesch, é a que mais difere da versão de 1983, principalmente nos arranjos de guitarra. Mas isso só reforça o propósito do projeto: não é uma mera cópia, mas sim uma releitura respeitosa, que enriquece e valoriza o material sem se prender cegamente a ele. As pequenas diferenças aqui e ali são perceptíveis, mas sempre bem-vindas, pois mostram que houve um cuidado genuíno na construção desse álbum.
Ainda que “Balls to the Wall: Reloaded” não substitua o original, ele serve como uma ponte entre gerações. Para os veteranos, é uma chance de reviver clássicos sob uma nova perspectiva. Para os mais novos, pode ser o incentivo perfeito para explorar a discografia do Accept e entender por que esse álbum marcou época. E, claro, é uma prova do respeito que a cena metal tem por Udo Dirkschneider, um dos vocalistas mais icônicos do gênero.
Se há algo a criticar, talvez seja a previsibilidade do projeto, no sentido de que segue exatamente o que se propõe sem grandes ousadias. Mas, no fundo, isso não é um problema real, pois o objetivo era entregar uma homenagem digna, e isso foi feito. Em tempos onde regravações muitas vezes se tornam pálidas imitações do original, é revigorante ver um trabalho que realmente adiciona algo novo sem perder o espírito do clássico. Ainda assim, não podemos ignorar a pergunta que persiste: será que essa regravação era realmente necessária?
No final das contas, “Balls to the Wall: Reloaded” não é apenas um álbum para os fãs de Accept ou Dirkschneider, mas sim para qualquer amante do heavy metal. É uma celebração de um legado, uma aula de respeito à história do gênero e, acima de tudo, um álbum que exala paixão e autenticidade. No entanto, apesar de sua qualidade inquestionável, quando falarmos sobre “Balls to the Wall” no futuro, será essa versão que mencionaremos ou continuaremos a nos referir ao clássico absoluto de 1983?
“Balls To The Wall Reloaded” tracklist:
01.”Balls To The Wall” [feat. Joakim Brodén do Sabaton]
02.”London Leatherboys” [feat. Biff Byford do Saxon]
03.”Fight It Back” [feat. Mille Petrozza do Kreator]
04.”Head Over Heels” [feat. Nils Molin do Dynazty / Amaranthe]
05.”Losing More Than You’ve Ever Had” [feat. Michael Kiske do Helloween]
06.”Love Child” [feat. Ylva Eriksson do Brothers Of Metal]
07.”Turn Me On” [feat. Danko Jones]
08.”Losers And Winners” [feat. Dee Snider do Twisted Sister]
09.”Guardian Of The Night” [feat. Tim “Ripper” Owens of KK’s Priest / ex-Judas Priest]
10.”Winter Dreams” [feat. Doro Pesch]
Ouça: