Texto: Thiago Rahal Mauro
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Gravadora: Shinigami Records/Sharptone Records
“Deathmatch”, novo disco da banda finlandesa Luna Kills, chegou até mim sem qualquer expectativa. Confesso: é a primeira vez que ouço o nome da banda. E talvez por isso, a surpresa tenha sido ainda maior. Lançado em 4 de abril de 2025 pela Sharptone Records — primeira aposta do selo em uma banda da Finlândia — o álbum é um verdadeiro exercício de identidade. Combinando nu-metal, pop alternativo, eletrônica e uma sensível estética dos anos 2000, a banda entrega um trabalho de peso, coeso e emocionalmente acessível.
Desde a faixa de abertura, “Love u”, percebi que não se tratava de mais uma banda tentando reviver tendências do passado. Há autenticidade aqui. O refrão é explosivo e direto, mas é na combinação entre vocais limpos, screams bem colocados e letras simples (porém certeiras) que a faixa realmente conquista. A estrutura é radiofônica, mas com energia de palco — e isso se repete ao longo do disco.
“Leech”, já lançada como single, é um dos momentos mais intensos. O contraste entre a suavidade dos versos e os gritos rasgados no refrão funciona como uma válvula de escape emocional. A vocalista Lotta Ruutiainen demonstra uma capacidade expressiva rara: sabe quando segurar e quando soltar. É especialmente perceptível nas faixas que abordam saúde mental com franqueza, como essa.
“Sadist” muda o ritmo, com batidas eletrônicas discretas e uma linha de baixo melódica que guia a canção por um caminho mais introspectivo. A produção aqui mostra cuidado nos detalhes, algo que se repete em “Sugar rush”, faixa de pegada pop com uma pitada instrumental que remete à estética da banda Polyphia. O solo, surpreendente e preciso, funciona como ponto de equilíbrio numa faixa que poderia facilmente pender para o açucarado.
“Slay ur enemies” é uma das mais diretas e enérgicas do álbum — e entendo por que foi lançada como primeiro single. Tem tudo que uma boa faixa ao vivo precisa: refrão memorável, variação vocal e um instrumental sólido. É uma faixa que, mesmo sem ter experiência anterior com a banda, parece familiar, no bom sentido.
“Hallucinate” e “Waves” mostram um lado mais atmosférico do grupo. A primeira tem uma aura etérea, quase fantasmagórica, que remete ao Deftones, com camadas vocais que criam texturas sonoras densas. Já “Waves” traz uma levada mais moderna, com inserções eletrônicas que, embora discretas, adicionam profundidade e fluidez à escuta.
A maior surpresa veio com “Get mad”. Alguns versos são cantados em finlandês, o que me pegou desprevenido — mas não de forma negativa. A mescla com o inglês não compromete a fluidez da música, e, curiosamente, adiciona autenticidade. O solo de guitarra de Samuli Paasineva é outro destaque técnico do álbum, em uma faixa que começa quase alegre, mas logo mergulha em um peso inesperado.
Na penúltima faixa, “Burn the world with me”, o disco atinge seu ápice cinematográfico. É intensa, grandiosa e sombria, como se tivesse sido escrita para os créditos finais de um filme pós-apocalíptico. A bateria de Jimi Kinnunen ganha destaque aqui, conduzindo a faixa com potência e precisão.
O álbum encerra com “Fever dream”, uma balada emocional e surpreendentemente bem dosada. Baladas em discos pesados costumam ser um risco — podem soar artificiais ou deslocadas. Não é o caso aqui. Lotta canta com a honestidade de quem está expondo algo pessoal, e a canção acerta pela simplicidade e emoção contida. Lembra, em intensidade, a entrega de artistas como Nick Cave.
“Deathmatch” é, para mim, uma descoberta. Uma grata surpresa. Em tempos em que muitas bandas apostam em fórmulas, o Luna Kills apresenta um disco que é ao mesmo tempo acessível e ousado, moderno e nostálgico. Mais do que um conjunto de faixas, é uma obra pensada para o todo, que convida o ouvinte a entrar — mesmo que seja a primeira vez — e ficar.
Tracklist:
1. love u
2. LEECH
3. SADIST
4. sugar rush
5. slay ur enemies
6. hallucinate
7. WAVES
8. get mad
9. burn the world with me
10. fever dream