Texto: Thiago Rahal Mauro
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Gravadora: Shinigami Records/Reaper Entertainment
Logo de cara, quando me deparei com o nome Himmelkraft, confesso que não senti aquela empolgação imediata. Pensei que fosse mais uma daquelas bandas obscuras tentando reviver o hard rock dos anos 80 com visual reciclado e produção artificial. Mas bastou uma rápida olhada nos créditos para minha atenção mudar completamente: Tony Kakko? O mesmo Tony do Sonata Arctica? Imediatamente, soube que havia algo diferente ali — e meu lado curioso entrou em ação.
Ao dar o play, percebi que estava prestes a ouvir algo fora do comum. Não há nenhum resquício da estética power metal melódica que Tony ajudou a eternizar. Em vez disso, fui envolvido por uma atmosfera mais teatral, quase cinematográfica, com arranjos que não têm pressa de agradar. Era como entrar num mundo novo, criado com cuidado, mas sem explicações óbvias. Me senti convidado a explorar sem mapa, apenas confiando na voz inconfundível que me guiava.
Uma das coisas mais intrigantes foi a forma como os músicos se apresentam: com nomes codificados como Unu, Du, Tri e Kvar O’Four. Parece uma banda saída de um universo paralelo, como se cada integrante representasse uma peça simbólica de um enigma maior. E a música reflete isso — não há fórmulas fáceis, não há refrões grudados com cola industrial. Há liberdade criativa, há risco. E, acima de tudo, há verdade.
“The Pages of History” abre como se fosse a introdução de um ritual. Ela prepara o terreno sem entregar o jogo. “Uranium” mergulha numa sonoridade pesada, quase sufocante, mas com uma melodia que resiste à escuridão. “Paika” me soou como um sonho esquisito em forma de música — daqueles em que você não entende, mas acorda mexido. Já “Fat American Lies” quebra o conforto com ironia ácida e groove inesperado, mostrando que este não é um disco para se ouvir de forma passiva.
Me chamou muito a atenção como cada faixa parece carregar um propósito próprio, como se fossem episódios de uma série ainda não lançada. “Dog Bones” brinca com ritmos e imagens que beiram o grotesco, enquanto “When the Music Stops” traz uma sensação de ausência — como se a música quisesse falar sobre o que acontece quando ela mesma deixa de existir. É difícil explicar com palavras, mas tem um peso emocional que vai além da melodia.
Nas partes mais introspectivas, como em “There’s a Date in Every Dream” e “Crystal Cave”, Tony mostra uma sensibilidade crua, sem os floreios que tantas vezes mascaram o sentimento nas baladas do rock moderno. Ele canta com a alma nua. E isso é raro. “I Was Made to Rain on Your Parade” é de uma honestidade desconcertante, como se fosse escrita num momento de total vulnerabilidade. Não é para levantar o astral — é para olhar nos olhos da sua própria tristeza.
A produção é elegante, mas nunca polida demais. O disco tem textura, tem imperfeição, tem respiração. Dá para sentir os dedos deslizando pelas cordas, os pés batendo no chão. É um som que pulsa, não um som moldado para streaming. E isso me fez pensar o quanto precisamos de mais artistas que criem sem medo do silêncio, sem ansiedade por validação imediata. Himmelkraft é um desses trabalhos que exigem escuta ativa, tempo, presença.
No fim, saí da audição com a sensação de que Tony Kakko encontrou uma nova maneira de se expressar — uma que não precisa de solos rápidos ou coros épicos para ser grandiosa. Ele criou algo vivo, estranho e profundamente humano. E, honestamente, isso me deixou animado com os caminhos que a música ainda pode trilhar. Que venham mais surpresas como essa. Estou pronto para o próximo capítulo.
Line-Up:
Tony Kakko as Unu O’Four – vocals, teclados
Pasi Kauppinen as Du O’Four – baixo
Timo Kauppinen as Tri O’Four – guitarras, banjo
Jere Lahti as Kvar O’Four – bateria, percussão
Tracklist:
The Pages of History (Opening)
Full Steam Ahead
Uranium
Paika
Fat American Lies
Dog Bones
When the Music Stops
Gorya
There’s a Date in Every Dream
Crystal Cave
I Was Made to Rain on Your Parade
Deeper