Texto: Thiago Rahal Mauro
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Gravadora: Shinigami Records/Reaper Entertainment
Nunca tinha ouvido falar do End of Green. Aliás, esse nome me soava quase paradoxal: fim do verde, fim da esperança? Mas bastaram alguns minutos de audição para entender que a proposta da banda passa justamente por esses abismos emocionais. Twinfinity, como o nome já sugere, é uma releitura do passado. Um reflexo mais nítido – ou talvez mais distorcido – de Infinity, disco que marcou a estreia da banda lá em 1996. E mesmo sem conhecer a versão original até então, entrei nessa jornada com ouvidos abertos e nenhuma expectativa. Saí diferente.
Left My Way abre o álbum como uma estrada deserta ao entardecer. Os acordes não gritam, eles suspiram. E os vocais de Michelle Darkness – esse nome já diz muito – não cantam apenas, eles confessam. A música não tenta impressionar, mas acaba hipnotizando. Quando Away entra, a virada é imediata. A leveza dá lugar a guitarras mais sujas, quase sufocantes. Lembra um pouco aquelas bandas que caminham entre o pós-metal e o shoegaze, mas com uma crueza mais direta. O último grito da faixa não é apenas uma explosão: é um rasgo.
Já Seasons of Black é quase um interlúdio – curto, denso, envolvente. Tem cheiro de floresta úmida e som de silêncio pesado. A faixa-título, Infinity, vem logo depois, como uma espiral. São nove minutos que não parecem longos. A música respira, estica, se esconde, reaparece. Não é uma progressão típica, é mais uma dança lenta entre sombras e pequenas luzes. Tomorrow Not Today brinca com essa mesma estética, mas insere nuances mais leves nos vocais, como se alguém acendesse uma vela no fim do corredor.
Sleep me pegou desprevenido. Esperava um arrastar monótono, mas encontrei uma alternância viva entre o sombrio e o quase esperançoso. Há algo pulsando ali, mesmo quando tudo parece desabar. E então vem You, que parece escrita em outro idioma emocional. É seca, cortante, ríspida. Os riffs entram como tapas no rosto, e o refrão soa como provocação. Um choque bem-vindo. Nice Day To Die vem como uma contraofensiva: desacelera tudo, como se dissesse “respira, mas não relaxa”. Os vocais aparecem e desaparecem como pensamentos intrusivos no meio da noite.
Encerrando o disco, No More Pleasure retorna ao terreno do gótico mais cru. Não é assustador, mas inquieta. Tem algo ali que fica martelando depois que acaba. E aí o silêncio faz sentido.
Por curiosidade, fui ouvir a versão de 1996. A comparação é inevitável, mas nem necessária. A antiga tem o peso do início, da juventude. A nova tem o peso do tempo, das cicatrizes, da reflexão. Algumas faixas parecem outras – Away e Sleep, principalmente. É como reler um diário antigo e perceber que, embora os fatos sejam os mesmos, a forma como você os entende mudou completamente.
Twinfinity não soa como um recomeço, nem como uma homenagem nostálgica. É uma declaração. De que o passado pode ser visitado sem ser revivido. De que a dor envelhece, mas não enfraquece. E que algumas bandas – mesmo que você só as descubra depois de décadas – parecem ter escrito canções especialmente pra você.
TRACK LIST
CD 1 Twinfinity
1. Left My Way
2. Away
3. Seasons Of Black
4. Infinity
5. Tomorrow Not Today
6. Sleep
7. You
8. Nice Day to Die
9. No More Pleasure
CD 2 Infinity
1. Left My Way
2. Away
3. Seasons Of Black
4. Infinity
5. Tomorrow Not Today
6. Sleep
7. You
8. Nice Day to Die
9. No More Pleasure
FORMAÇÃO
Michelle Darkness – Vocal
Sad Sir – Guitarra
Kirk Kerker – Guitarra
Hundi – Baixo
Lusiffer – Bateria