O preço da notícia na era do Clickbait
11/06/2025 // Home  »  ArtigosDestaque   »   O preço da notícia na era do Clickbait




Por Thiago Rahal Mauro

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A era digital transformou a maneira como consumimos notícias, e com ela surgiu uma nova moeda: o clique. Em vez de buscarmos profundidade, somos seduzidos por títulos chocantes. Muitas vezes, ao abrir a matéria, percebemos que o conteúdo não condiz com a manchete. Isso coloca em xeque a cultura do jornalismo: até onde vale sacrificar a verdade por visualizações? George Orwell já advertia sobre os perigos de manipular informação – hoje, isso virou marketing editorial.

Recentemente, li no Blabbermouth que Dee Snider explicou que o termo “heavy metal” surgiu como insulto de críticos: “The term ‘heavy metal’ … was a derogatory title” – https://blabbermouth.net/news/dee-snider-says-lifes-too-short-to-worry-about-hair-metal-tag-im-the-original-hair-farmer. Mas manchetes do tipo “Dee Snider declara que heavy metal era ofensa” omitem o tema da ressignificação pelo público. A frase isolada choca, mas perde a reflexão sobre história cultural, distorcendo a mensagem original.

Em outra matéria, Snider criticou o Rock and Roll Hall of Fame como “elitista” e acusou o comitê de desprezar o metal – https://blabbermouth.net/news/dee-snider-says-arrogant-and-elitist-rock-and-roll-hall-of-fame-looks-down-on-heavy-metal-bands. Ainda assim, títulos sensacionalistas do tipo “Snider: Hall of Fame ‘olha com desdém para o metal’” exaltam o ataque, em vez de abordar o debate sobre legitimidade e respeito. É a diferença entre denunciar e criar polêmica vazia.

Lee Malia, guitarrista do Bring Me the Horizon, em entrevista ao Blabbermouth, falou sobre a coragem da banda em experimentar novos estilos. Mesmo assim, manchetes chamativas como “BMTH admite que não é mais metal” reduzem sua fala a um desdém ao próprio gênero. O que era um processo artístico ganha tom de denúncia, cansativo para o leitor.

Essa prática confunde o público e mascara a complexidade do discurso. O fã espera ouvir sobre evolução musical, influências, timbre e técnica — não escândalo em cima de frase fora de contexto. Alguns músicos relatam que evitam entrevistas por medo de distorções. Há um custo real para a cultura: produtores de conteúdo atuais preferem engajamento fácil a conteúdo sólido.

Ao fabricarmos polêmica em título, escondemos a essência da entrevista. Tornamo-nos isca para audiência, em vez de ponte para reflexão. Em nome de métricas, sacrificamos o conteúdo — e a confiança do leitor.

Há saídas: títulos criativos podem ser fiéis. Pense em um título como “Dee Snider: ‘Heavy metal foi insulto’” ou “Lee Malia destaca coragem do BMTH para evoluir”. Assim, mantemos o impacto sem trair o conteúdo — respeitando tanto o artista quanto o público. A inteligência do leitor merece isso.

Por mais atrativo que seja os views, o clique jamais deve valer mais que a verdade. Se queremos resgatar o caráter da profissão, é hora de reconstruir a credibilidade antes que ela desapareça de vez.

 

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