Entrevista: Ronnie Atkins fala sobre sua batalha contra o câncer e Pretty Maids pela primeira vez no Brasil no Bangers Open Air: “A vida é um presente”
26/03/2025 //
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Texto e entrevista por Thiago Rahal Mauro
Crédito Foto: Tallee Savage
O Pretty Maids está prestes a fazer sua estreia no Brasil após mais de quatro décadas de carreira. A banda dinamarquesa, que se destacou no hard rock e heavy metal, sempre teve uma legião de fãs pelo mundo, e finalmente, esses admiradores brasileiros terão a chance de vê-los ao vivo. Ronnie Atkins, vocalista e membro fundador, compartilhou sua empolgação com essa nova experiência e o desafio de condensar uma carreira tão extensa em um show especial para o público brasileiro.
Ao longo dos anos, Atkins teve interação com fãs brasileiros por meio de turnês com o Avantasia, assinando discos e recebendo mensagens carinhosas pelas redes sociais. Agora, ele poderá retribuir esse carinho em um show histórico. A banda promete um setlist recheado de clássicos, abrangendo desde álbuns como Red, Hot and Heavy e Future World até os trabalhos mais recentes.
Além da história com o Pretty Maids, Ronnie Atkins também refletiu sobre sua jornada na música e a forma como sua batalha contra o câncer impactou sua perspectiva de vida. Para ele, cada dia é um presente, e continuar fazendo música é uma maneira de celebrar a vida. Ele enfatiza a importância de manter-se ativo e seguir com sua paixão, independentemente dos desafios.
Nesta entrevista exclusiva, Ronnie Atkins fala sobre o impacto do Pretty Maids no heavy metal, sua relação com os fãs brasileiros, sua experiência com o Avantasia e as transformações da indústria musical. Confira a conversa completa abaixo!
Onde o Rock Acontece: Esta é a primeira vez do Pretty Maids no Brasil. Como você se sente ao finalmente tocar para seus fãs brasileiros? O que podemos esperar do show no Bangers of Air? Ronnie Atkins: Bem, antes de tudo, parece surreal. Nunca estivemos no Brasil em 42 de anos de carreira, sabe? Mas vai ser incrível. Estamos muito ansiosos para ir ao Brasil e tocar pela primeira vez. Vamos tentar condensar, basicamente, uma carreira de 42 anos e 16 álbuns em apenas uma hora de show, o que vai ser um grande desafio, claro. Mas acho que vamos tocar algumas músicas da era clássica, de Red, Hot and Heavy, Future World e também de Pandemonium em diante. Talvez algumas músicas do período intermediário também. Ainda não montamos o setlist, mas estamos trabalhando nisso. Todos na banda estão muito empolgados para esse show, e eu já falei para eles que o público aí é fantástico. Vai ser incrível!
Onde o Rock Acontece: Ao longo dos anos, você teve alguma interação com os fãs brasileiros? Recebeu mensagens ou teve momentos especiais com eles? Ronnie Atkins: Sim, com certeza! Tenho feito turnês no Brasil nos últimos 9 ou 10 anos com o Avantasia. Então, claro, conheci muitos fãs, assinei muitos CDs, vinis e materiais do Pretty Maids por aí. Sei que temos um público fiel. Também recebemos muitas reações pela internet e nas redes sociais. Estou realmente ansioso por isso. Acho que vai ser incrível!
Onde o Rock Acontece: O Pretty Maids existe há mais de 40 anos. Como você enxerga a evolução da banda desde o início até hoje? Tem algum álbum ou música que você sente que foi subestimado e merecia mais reconhecimento? Ronnie Atkins: Sempre penso que o período entre 1985 e 1992 ou 1993 foi quando atingimos o auge. Depois disso, continuamos fazendo música, mas novos estilos e gêneros surgiram, como o grunge e o nu metal. Nós tentamos manter nossa identidade e continuamos seguindo nosso caminho. Em 2010, gravamos o álbum Pandemonium com um novo produtor, e desde então temos mantido um bom ritmo, até 2019, quando fiquei doente e, logo depois, veio a pandemia de Covid-19. Mas sempre tentamos continuar compondo boas músicas e entregando ótimos shows ao vivo. No final das contas, é isso que o público espera de nós: boa música e performances ao vivo de qualidade. É nisso que continuamos focados.
Onde o Rock Acontece: O álbum Future World é um dos mais icônicos do Pretty Maids e influenciou muitas bandas. Vi várias entrevistas em que Hansi Kürsch, do Blind Guardian, disse que vocês foram uma das grandes influências para o estilo dele. Quando vocês gravaram esse álbum, tinha ideia do impacto que ele teria no hard rock e no heavy metal? Ronnie Atkins: Não, não acho que tínhamos. Nós apenas fazíamos o que fazíamos. Eu conheço o Hansi, porque cantei em um álbum do Blind Guardian chamado Imaginations from the Other Side, em meados dos anos 90. Ele me disse que cresceu ouvindo Pretty Maids e que meu estilo vocal o influenciou. Hansi é um cara fantástico e muito gente boa. Saber que nossa música inspirou outras bandas é uma grande honra para mim. Sempre fico feliz ao ouvir esse tipo de reconhecimento!
Onde o Rock Acontece: Além do Pretty Maids, você também está em turnê com o Avantasia. O que você mais gosta nessa experiência, tanto em turnê quanto gravando músicas para o projeto? Afinal, são muitos vocalistas envolvidos e é um estilo bem diferente do Pretty Maids. O que você mais curte nisso? Ronnie Atkins: A principal diferença para mim é que, em um show do Pretty Maids, sou o frontman e preciso cantar a noite toda. Tenho um papel maior nesse sentido. No Avantasia, é o projeto do Tobias Sammet, e ele é um frontman incrível, um grande entertainer. Então, eu e os outros vocalistas entramos e saímos do palco, e todos temos momentos para brilhar. O ambiente é ótimo, sem egos inflados. Há uma grande camaradagem entre todos, seja entre os músicos, os vocalistas ou a equipe. Todos se dão muito bem, há uma química incrível. E é por isso que eu ainda gosto tanto de fazer parte disso. É uma experiência muito divertida e gratificante!
Onde o Rock Acontece: Você tem sido muito aberto sobre sua batalha contra o câncer. Como essa experiência influenciou sua vida e sua música? Ronnie Atkins: Bom, antes de tudo, foi um divisor de águas, claro. Mas, para ser sincero, há cinco anos eu jamais acreditaria que ainda estaria aqui hoje, tendo gravado três álbuns solo, um álbum com o Pretty Maids, e ainda subindo aos palcos com o Avantasia, e minha própria banda. Eu me sinto abençoado por ainda poder fazer aquilo que amo desde os 10 anos de idade.
Mas, como eu disse, foi um divisor de águas e isso muda um pouco a sua mentalidade. Você para de dar certas coisas como garantidas e não quer mais lidar com problemas triviais, porque percebe que existem questões muito mais importantes. Pequenas discussões deixam de ter significado. Você entende que a vida é um presente e que deve estar grato a cada dia que abre os olhos e desperta. E é isso que eu faço. Basicamente, eu aproveito cada dia o máximo que posso.
Onde o Rock Acontece: Sua história me impressionou muito porque, há algumas semanas, descobri que tenho familiares próximos com câncer. E eu me lembrei da sua trajetória. Isso mexeu muito com a minha saúde mental, mas agora minha alimentação e minha rotina estão muito melhores. Sua história inspira muitas pessoas. Ronnie Atkins: Fico muito feliz em ouvir isso! Se eu puder servir como um bom exemplo e trazer um pouco de esperança para pessoas que têm câncer ou que conhecem alguém que enfrenta essa batalha, fico imensamente feliz. Eu farei tudo o que puder para ajudar os outros. Espero que minha música possa ser um meio para isso.
Meus álbuns solo são muito pessoais, pois refletem diretamente a dor que eu mesmo passei. São os trabalhos mais íntimos que já fiz na vida. Mas essas músicas me ajudaram muito a superar um período difícil e a seguir em frente. Ao invés de simplesmente me sentar e sentir pena de mim mesmo, eu me mantive ativo.
O câncer é uma doença devastadora. Muitas pessoas são diagnosticadas todos os dias. Quando fui diagnosticado, se eu olhasse as estatísticas, elas diziam que a maioria das pessoas com meu quadro não viveria mais do que um ano ou um ano e meio. Ainda tenho um câncer incurável. Ele não desapareceu completamente, apenas está sob controle. Mas minha realidade ainda é a de um diagnóstico de estágio 4. Então, aprendi a conviver com isso. É o que é. Não posso mudar isso, então apenas faço o meu melhor para aproveitar ao máximo. Como na música que escrevi: Make It Count.
Onde o Rock Acontece: Esse seu estilo de vida hoje… Muitas pessoas só mudam a forma de viver depois que enfrentam um grande problema como esse. Mas talvez não devessem esperar por algo assim para enxergar a vida de outra maneira. Ronnie Atkins: Sim, eu basicamente tento viver como sempre vivi, fingindo que nada aconteceu. Não é algo que fica na minha cabeça o tempo todo. Se eu ficasse em casa sem fazer nada, provavelmente pensaria muito mais nisso. Mas estando na estrada, junto aos fãs todas as noites, com meus amigos no Avantasia e no Pretty Maids, eu simplesmente vivo como se nada tivesse acontecido.
Claro que penso no assunto às vezes. Está sempre no meu subconsciente e sou lembrado disso todos os dias, especialmente quando falo com jornalistas e sou questionado sobre o tema. Sempre fui muito aberto sobre isso. Mas não deixo isso arruinar minha vida. Quero aproveitar ao máximo o tempo que me resta. Pode ser meio ano, cinco anos, ou mais. Ninguém sabe. Afinal, a vida é imprevisível. Podemos falar sobre isso agora, mas amanhã alguém pode sofrer um acidente de avião ou ser atropelado. Ninguém sabe o que o futuro reserva.
Onde o Rock Acontece: E depois dessa turnê e desse show no Brasil, você tem planos para um novo álbum? Ronnie Atkins: Na verdade, a ideia inicial era fazer apenas alguns shows em 2024. Mas a resposta dos fãs foi tão positiva e tivemos tantos pedidos para mais apresentações que resolvemos continuar. Agora temos festivais e mais alguns shows programados para o outono.
Ainda não decidimos o que faremos depois disso. Talvez componhamos novas músicas. Mas também tenho meu álbum solo, com cerca de 12 músicas já escritas, esperando para serem gravadas. Esse também é um dos meus focos. Estamos conversando sobre escrever novas músicas para o Pretty Maids, mas vamos ver como as coisas acontecem.
Onde o Rock Acontece:: Você acompanhou todas as mudanças da indústria musical: do vinil para o CD, depois para o MP3, e agora o streaming. Como você vê essas transformações? Você gosta dessa nova era ou prefere o passado? Ronnie Atkins: Bom, olhando para a minha conta bancária, era muito mais divertido estar no rock and roll há 20 anos do que é hoje! (risos). Basicamente, não ganhamos quase nada com o streaming. Plataformas como o Spotify pagam valores ridículos. Quando começamos na indústria, vendíamos vinis e CDs. Hoje, parece que estamos entregando nossa música de graça. Isso explica por que tantas bandas grandes não querem mais gravar álbuns.
Ao mesmo tempo, ainda somos músicos e queremos continuar criando, pois sabemos que há fãs que desejam ouvir novas músicas. E, de certa forma, sentimos que devemos compartilhar isso com eles. Mas, financeiramente, a situação da indústria musical está muito ruim. Parece que estamos regredindo.
Onde o Rock Acontece: E, por fim, uma mensagem para os fãs brasileiros que acompanharam o Pretty Maids e agora vão vê-lo novamente? Ronnie Atkins: Estou muito animado para esse show! Eu e o Pretty Maids nunca tocamos no Brasil antes, o que é meio louco, né? Sempre digo que os fãs do Brasil e da América do Sul são os mais apaixonados e barulhentos que já vi na vida. Isso é a mais pura verdade.
Fiquei impressionado na minha primeira vez no Brasil e falei para os outros caras da banda que seria uma experiência incrível. Sei que todos os integrantes do Pretty Maids estão ansiosos para esse show. Espero que possamos fazer uma grande apresentação e que muitos fãs compareçam. Vai ser uma noite fantástica!
