Texto: Leandro Saueia

Crédito Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Adrian Belew, Tony Levin, Steve Vai e Danny Carey relembraram o repertório gravado nos anos 80 pela banda progressiva.
Os fãs brasileiros do King Crimson foram recompensados nos últimos anos por sua longa lealdade à banda. Em 2019, os ingleses estiveram no Brasil pela primeira — e única — vez, em um show com repertório que abrangeu todas as fases do grupo surgido no final dos anos 60. No ano passado, o ex-violinista David Cross veio a São Paulo para uma apresentação que celebrou os discos da fase 1973–1975 do grupo.
Finalmente, na sexta-feira (9), foi a vez do BEAT, superbanda que o guitarrista e vocalista Adrian Belew, com a devida autorização de Robert Fripp, montou para tocar o material dos três discos que o Crimson gravou nos anos 80: Discipline (1981), Beat (1982) e Three of a Perfect Pair (1984).
Além de Adrian, o quarteto conta com o baixista e “stickman” Tony Levin — outro membro original dessa formação — e com dois músicos de peso assumindo a complicada missão de substituir Fripp e o baterista Bill Bruford: o virtuoso Steve Vai e o igualmente técnico Danny Carey, de volta a São Paulo poucas semanas depois de ter se apresentado na cidade com o Tool.
Das grandes bandas do rock progressivo inglês dos anos 70, o Crimson foi a que teve a carreira mais interessante na década seguinte. Em vez de optar por uma guinada rumo à música mais comercial ou fingir que o tempo não havia passado, Fripp encontrou a formação ideal para investir em uma sonoridade mais enxuta, aberta a influências globais e do pós-punk. Os três discos lançados à época ainda soam inovadores, mesmo 40 anos após chegarem às lojas — algo que se comprovou no Espaço Unimed.
Para os fãs, a maior dúvida era saber como os “novatos” se sairiam na missão de tocar esse repertório, especialmente Steve Vai, um músico de estilo e personalidade extremamente distintos dos de Robert Fripp — famoso por tocar sentado e de terno.
O guitarrista saiu-se bem na tarefa, sem abrir mão de seu estilo, mostrando grande entrosamento com Belew. Tocando no lado esquerdo do palco — ao contrário de Fripp, que costumava ficar à direita — ele honrou o material com respeito, mas soube deixar sua marca nas execuções. Em momentos de maior liberdade, entregou alguns solos em velocidade supersônica, para alegria de seus admiradores. O aniversariante Carey também não decepcionou, mostrando-se um músico à altura de Bruford, outro instrumentista singular.
Com apenas três discos e um total de 24 músicas gravadas, a escolha do setlist foi simples e mais do que satisfatória, seguindo o padrão visto nos EUA e nos demais shows na América Latina — que teve em São Paulo sua última parada.
A primeira etapa teve nove músicas: as quatro primeiras tiradas de Beat e as demais de Three of a Perfect Pair. A coisa esquentou mesmo na segunda parte, quando muitos dos presentes puderam, finalmente, ver ao vivo momentos antes assistidos há décadas no Som Pop, da TV Cultura, ou em especiais da Rede Gazeta — começando pelo duelo percussivo de “Waiting Man”.
Após um intervalo, foi a vez das músicas de Discipline — o mais cultuado da trilogia — serem apresentadas. A banda não decepcionou e tocou seis de suas sete faixas, começando com a experimental “The Sheltering Sky”. Os “hits” “Elephant Talk” e “Matte Kudasai” também foram ouvidos, assim como outras três canções de Three of a Perfect Pair.
O bis teve um “Parabéns a Você” para Carey, com direito a bolo, e uma cover de “Red”, música gravada pelo KC em 1974, quando Belew e Levin sequer sonhavam em um dia entrar para a banda — levando em conta que ela também foi tocada pelo KC e por David Cross no Brasil, seria essa a canção definitiva do Crimson?
Para encerrar, a dançante e pesada “Thela Hun Ginjeet” — grande momento em que o progressivo se encontrou com o funk — veio em uma versão poderosa o bastante para fazer o público esquecer que já passava da meia-noite e que voltar para casa de metrô já não era uma opção.
Na saída, foi possível ouvir alguns fãs discutindo se o show do BEAT havia superado o do Crimson ou o de David Cross. Para este jornalista, que teve a chance de ver as três performances, foram concertos complementares — o que só mostra a abrangência e a diversidade de estímulos e emoções que a música do KC consegue proporcionar ao ouvinte.
Resumidamente: o Crimson fez um concerto mais emotivo, como não poderia deixar de ser. O de Cross foi marcado pela visceralidade, e o BEAT foi mais, digamos, cerebral. Em resumo: três de um par perfeito.
BEAT Setlist – Espaço Unimed 9 de maio de 2025
Set 1
Neurotica (Beat)
Neal and Jack and Me (Beat)
Heartbeat (Beat)
Sartori in Tangier (Beat)
Model Man (Three of a Perfect Pair)
Dig Me (Three of a Perfect Pair)
Man With an Open Heart (Three of a Perfect Pair)
Industry (Three of a Perfect Pair)
Larks’ Tongues in Aspic (Part III) (Three of a Perfect Pair)
Set 2
Waiting Man (Beat)
The Sheltering Sky (Discipline)
Sleepless (Three of a Perfect Pair)
Frame by Frameo (Discipline)
Matte Kudasai (Discipline)
Elephant Talk (Discipline)
Three of a Perfect Pair (Three of a Perfect Pair)
Indiscipline (Discipline)
Bis
Red (Red)
Thela Hun Ginjeet (Discipline)

Crédito Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Crédito Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Crédito Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Crédito Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

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Crédito Foto: Reinaldo Canato / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Tags: Adrian Belew • Beat • Danny Carey • Mercury Concerts • Steve Vai • Tony Levin